Entrevista com Mary Mael, gestora de projecto da BOHEMIA

Quando era criança, sabia o que queria ser quando fosse grande? Já se sentia atraída pela área da saúde?

Quando era criança, queria trabalhar em todas as profissões possíveis e imagináveis. Um dia queria ser veterinário e o outro queria ser advogado. À medida que fui crescendo, os meus interesses começaram a virar na direcção da saúde. A minha entrada na saúde pública foi por acaso. Estava no segundo semestre da universidade, ainda completamente perdida sobre o que estudar, quando ouvi alguém a falar sobre o seu curso em Saúde Pública. Pensei “parece-me bem”. Assim que fui para casa, pesquisei informação e uma semana depois acabei por escolhê-lo. O plano inicial era tirar um mestrado em dietética e trabalhar num hospital, porque me interessava a nutrição, mas a minha paixão por viajar atraiu-me para a saúde global.

Quais são as memórias mais antigas que tem da malária? Quando é que tomou contacto pela primeira vez com esta doença?

A minha memória mais antiga da malária é de quando a estudei muito brevemente durante a minha licenciatura. Tenho sorte de não ter sabido da malária mais cedo. Cresci num país onde a malária não é um problema, por isso não é algo de que se fale habitualmente, fora dos círculos da saúde global. Foi só com o projecto BOHEMIA que comecei a aprender realmente sobre a malária e as suas consequências devastadoras.

Quando ouviu falar do projeto BOHEMIA, qual foi a primeira coisa que pensou acerca da utilização da ivermectina para o controlo da malária?

Demorei algum tempo a compreender a singularidade deste projecto. Ao contrário da maioria dos ensaios clínicos, estamos a abordar os nossos participantes no ensaio para que tomem um medicamento que não os protegerá imediatamente da malária, mas que, em vez disso, ajudará a quebrar o ciclo de transmissão, reduzindo a malária no futuro.

Ao contrário da maioria dos ensaios clínicos, estamos a abordar os nossos participantes no ensaio para que tomem um medicamento que não os protegerá imediatamente da malária, mas que, em vez disso, ajudará a quebrar o ciclo de transmissão, reduzindo a malária no futuro.

Ao contrário da maioria dos ensaios clínicos, estamos a persuadir os nossos participantes no ensaio para que tomem um medicamento que não os protegerá imediatamente da malária, senão que, em vez disso, ajudará a quebrar o ciclo de transmissão, reduzindo a malária no futuro.

Durante as minhas primeiras semanas de trabalho, o Director Científico, Carlos Chaccour, mandou-me ler alguma literatura publicada sobre o tema e, quanto mais lia, mais começava a perceber a ideia.

Qual é o seu papel no ensaio BOHEMIA e quais são as suas tarefas diárias? Como é que o seu papel no BOHEMIA evoluiu desde a primeira vez que se juntou ao projecto?

Sou a Gestora do Projecto, pelo que a minha função, no sentido mais simples, é garantir que os resultados globais da subvenção e os marcos que foram definidos com o financiador “Unitaid” antes de a subvenção ser atribuída estão a ser cumpridos. Isto implica, por exemplo, garantir que os locais de ensaio estejam a funcionar sem problemas. Mas há outros resultados não relacionados com os ensaios, como a escalabilidade e o envolvimento com os fabricantes de medicamentos, que também têm de ser controlados.

Os meus dias variam muito, dependendo das necessidades do projecto nesse momento. Alguns dias, o meu trabalho centra-se mais no acompanhamento do projecto em termos gerais, como a apresentação de relatórios à Unitaid e o acompanhamento do progresso dos ensaios. Outros dias, o meu trabalho é muito mais prático. Como somos uma equipa pequena e há muito trabalho a fazer, muitas vezes trabalho directamente com a equipa local, planeando as operações e a logística. De qualquer forma, o meu trabalho exige a participação em muitas reuniões e o seguimento do que cada membro da equipa está a fazer para garantir que o projecto progride dentro do prazo que estabelecemos. 

O meu papel evoluiu muito desde o início do projecto. Comecei como assistente de projeto. Não tinha muita experiência em saúde global e tinha acabado de me mudar para Barcelona à procura do meu primeiro emprego fora dos EUA. Estive nesta função durante dois anos e meio. Mas quando o gestor do projecto saiu, ofereceram-me ocupar o seu lugar. Inicialmente, foi um choque e senti-me um pouco intimidada, mas estava entusiasmada com a oportunidade de crescer profissionalmente e estava disposta a enfrentar o novo desafio.

Quais são alguns dos desafios na gestão de um projecto como BOHEMIA? Como é que os ultrapassa?

Gerir um grande ensaio de administração de medicamentos em massa como BOHEMIA não é brincadeira. Quer se trate de desafios logísticos, como o fornecimento e a entrega de materiais de ensaio, a aquisição de determinados artigos num país, ou de questões operacionais, como a contratação de pessoal, atrasos nos prazos, atrasos na aprovação de protocolos ou barreiras linguísticas, já lidei com quase tudo.

Mas, no final do dia, todos os desafios têm uma solução. Só é preciso perseverança e várias mentes criativas sentadas juntas a trocar ideias até que uma delas seja suficientemente louca para funcionar.

Na sua opinião, o que é necessário para avançar na luta contra a malária e como é que BOHEMIA se enquadra neste contexto?

Dinheiro e inovação. Os mosquitos são inteligentes. Até encontrarmos a varinha mágica para acabar com a malária, temos de continuar a acrescentar ferramentas e estratégias novas e inovadoras à caixa de ferramentas da malária. Para isso, é necessário um financiamento sustentado, criatividade e pessoas apaixonadas que imaginam um mundo onde nenhuma criança morra de malária.

Até encontrarmos a varinha mágica para acabar com a malária, temos de continuar a acrescentar ferramentas e estratégias novas e inovadoras à caixa de ferramentas da malária.

Finalmente, duas conclusões importantes da sua estadia em Moçambique e no Quénia. Quais são as semelhanças e as diferenças entre os dois sítios?

Para além de serem dois países da África Oriental, Moçambique e o Quénia não podiam ser mais diferentes. Ambos países têm culturas, línguas e climas distintos. Mesmo os problemas com que nos deparamos nos locais de ensaio são muito diferentes. Depois de ter passado muito tempo a trabalhar em ambos países e a coordenar equipas dos dois locais, a minha maior lição é: lembre-se sempre que quem está no lugar é que sabe melhor. Só porque não está a funcionar como esperava, não significa que não esteja a funcionar. Como gestora de projecto, tive de pôr de lado as minhas aplicações de fluxo de trabalho e adaptar-me a novos métodos para conseguir fazer as coisas. Em suma, lembre-se de ser humilde e respeitar a cultura.