Entrevista com o Dr. Makucha, médico do estudo BOHEMIA, em Moçambique

Dr Antonio Makucha

Fale-nos do seu passado e do seu papel no projeto BOHEMIA 

Dediquei os últimos 15 anos da minha vida à área médica em Moçambique, desempenhando várias funções, como diretor de hospital, médico de urgência e médico de medicina do trabalho. Juntei-me ao projeto BOHEMIA no distrito de Mopeia, em Moçambique, como médico do estudo para garantir a segurança dos participantes neste ensaio sobre a malária.

Para além do meu papel como médico do estudo, estou a prestar assistência no Hospital da Mopeia, apoiando o sistema de saúde local nas consultas externas e também nas urgências. Isto permite-me combinar as minhas duas paixões: tratar pessoas doentes e implementar a investigação sobre a malária.

Como médico baseado numa região de elevada transmissão de malária, poderia partilhar a sua experiência no tratamento desta doença?

A malária tem uma presença marcante em Moçambique e é um dos maiores desafios para o sistema de saúde pública. Todos os dias encontramos vários casos desta doença, asvezes leves e outras vezes graves. Para qualquer médico na região da Zambézia, confrontar-se com a malária é inevitável. Testemunhar a devastação da malária diariamente motiva-me a continuar a dedicar a minha carreira ao avanço contra esta doença evitável e tratável.

Todos os dias encontramos vários casos desta doença, asvezes leves e outras vezes graves.

Além disso, a região do ensaio, Mopeia, enfrenta muitos desafios no âmbito da saúde. As comunidades estão distribuídas por vastas áreas e é difícil para elas aceder facilmente aos centros de saúde e vice-versa. O hospital mais próximo fica a 60 km de distância, em Morrumbala, ou a 200 km, em Quelimane, os únicos locais onde podem ser efectuadas intervenções cirúrgicas.

O que considera único da abordagem de BOHEMIA no controlo de vectores?

O que considero verdadeiramente único no projeto BOHEMIA é a sua abordagem integrada no controlo de vectores, integrando várias disciplinas e sectores. Além disso, em Moçambique, o projeto adoptou o conceito One Health, reconhecendo a interconexão entre os seres humanos, os animais e o ambiente. Ao compreender esta dinâmica, o estudo pode propor estratégias de controlo de vectores que considerem aspectos como a mudança de comportamento das populações de mosquitos e o risco crescente de resistência aos actuais métodos de controlo de vectores.

O que é que acha que precisamos para um Moçambique livre de malária?

Para alcançar um Moçambique livre de malária é necessário um esforço abrangente de todos os sectores da sociedade. Temos de reconhecer que a malária não é apenas um problema de saúde, afecta as nossas comunidades também de forma socioeconómica. É também importante que o controlo e a eliminação da malária sejam conduzidos pelas comunidades afetadas. Temos de as capacitar e fornecer os recursos e os conhecimentos necessários para a prevenção da malária.

É também importante que o controlo e a eliminação da malária sejam conduzidos pelas comunidades afetadas. Temos de as capacitar e fornecer os recursos e os conhecimentos necessários para a prevenção da malária.

Por último, precisamos que as nossas políticas de saúde pública se baseiem em provas sólidas da investigação científica, como as conclusões do projeto BOHEMIA e outros projetos. Só desta maneira poderemos adaptar as nossas intervenções às necessidades e aos contextos operacionais.