Concluído em seis meses, o censo dá agora lugar à administração massiva de ivermectina, eixo estruturador do projeto.
São 10 376 os agregados familiares recenseados em Mopeia, em Moçambique, no âmbito do projeto BOHEMIA. O censo, que teve início a 23 de junho, consiste na numeração das casas que vão participar no projeto e a compilação de dados das pessoas que as habitam – quantas são, se tiverem malária recentemente, se têm animais domésticos, etc. Agora que se dá por concluído este processo, terá início a administração massiva da ivermectina à população e aos animais domésticos, prevista para janeiro de 2022. De acordo com a hipótese principal do projeto, a ivermectina, um fármaco antiparasitário seguro para pessoas e animais, provoca a morte dos mosquitos que a consomem, reduzindo assim a transmissão da malária.
Segundo Saimado Imputua, demógrafo do Centro de Investigação em Saúde de Manhiça (CISM), previa-se que o censo incluísse os dados de 12 579 agregados familiares situados em várias centenas de bairros do distrito de Mopeia. Dos 358 bairros que constituem o distrito, selecionaram-se 250 para levar a cabo o projeto. Os 108 bairros restantes foram descartados por critérios de exclusão tais como a dificuldade de aceder aos mesmos. O número final de casas recenseadas foi ligeiramente inferior ao esperado devido a imprevistos tais como recusas, casas que foram destruídas e ausências.
Antes de começar este censo, desenvolveu-se um “minicenso” entre outubro de 2020 e março de 2021. “Para a recolha de dados no minicenso utilizou-se uma versão curta do questionário atual com o objetivo de captar informação sobre o número e as características dos agregados familiares do distrito de Mopeia”, explica Humberto Munguambe, também demógrafo do projeto. Por conseguinte, o censo irá atualizar e ampliar os dados recolhidos no minicenso.
Como parte da preparação do censo, a equipa local liderada por Imputua e Munguambe efetuou vários encontros com as equipas de topografia e de supervisão de campo para refrescarem os seus conhecimentos. Para avaliar a eficácia dos questionários e a capacidade de avaliarem e resolverem possíveis incógnitas, a equipa também levou a cabo várias sessões-piloto nos bairros excluídos, evitando assim a duplicação de dados.
Neste contexto, o oficial de ligação com a comunidade Amilcar Nacima, o médico da ISGlobal Hansel Mudaca e o supervisor de atividades de campo Zacarias Pontavida concederam uma entrevista à rádio local em que anunciaram o início do grande censo. “Foi uma oportunidade para falar com as comunidades acerca de BOHEMIA, explicar os objetivos do projeto, porque é que se selecionou o distrito de Mopeia e, o que é mais importante, incentivar os ouvintes a participarem neste estudo.”
BOHEMIA é um consórcio liderado pela ISGlobal e financiado pela Unitaid. Inclui duas instituições africanas: o Centro de Investigação em Saúde de Manhiça (CISM), em Moçambique, e o Instituto de Saúde Ifakara (IFI), na Tanzânia, e três parceiros académicos: o Hospital Universitário de Berna, a Universidade de Oxford e a Virginia Tech. O projeto tem como objetivo reduzir a transmissão da malária através da administração de ivermectina em humanos e animais domésticos.