Entrevista com a Diretora do projeto BOHEMIA no Quénia: Mercy Wanjiru Kariuki
Quando era criança, o que é que queria ser quando fosse grande? Já se sentia atraída pela área da saúde?
Desde muito pequena sempre me interessei pela natureza, especialmente pelos animais. Estava sempre a tentar compreender o complexo equilíbrio entre os dois mundos, o que, muito honestamente, era demasiado para uma criança de 10 anos. No entanto, sentia-me mais inclinada para ler livros sobre animais e aprender acerca das plantas e da criação de animais através da minha mãe na nossa quinta.
Quando terminei a escola secundária, não conseguia encontrar um curso que combinasse os meus dois interesses, e os que havia eram demasiado caros. Tive de escolher um curso de ciências numa universidade menos cara, e acabei por estudar ciências médicas laboratoriais. Nunca me senti verdadeiramente realizada durante o meu percurso universitário, e na primeira oportunidade que tive candidatei-me para um emprego no setor do desenvolvimento.
Desde então, tenho feito todos os esforços para realizar um Mestrado em “Controlo de doenças infeciosas”, e atualmente trabalho como diretora de um projeto que se baseia numa abordagem de “Uma Só Saúde” para a prevenção de doenças.
Quais são as memórias mais antigas que tem da malária? Quando é que tomou contacto pela primeira vez com esta doença?
Tive a sorte de crescer numa região do Quénia livre de malária. O meu primeiro encontro com a malária foi no secundário. Estava num colégio interno em que havia estudantes de todos os cantos do país e, neste caso concreto, uma aluna da região ocidental do Quénia, conhecida por ser uma zona onde a malária é endémica, tinha acabado de voltar das férias de verão para retomar os seus estudos, quando começou a ter convulsões causadas pela febre alta. Foi rapidamente levada para a enfermaria do colégio, onde descobriram tratar-se de malária. Essa experiência ensinou-nos que não devemos dar por certo o privilégio de viver em zonas sem malária.
Essa experiência ensinou-nos que não devemos dar por certo o privilégio de viver em zonas sem malária.
Como é que soube do projeto BOHEMIA, e o que é que a motivou a unir-se a ele?
Andava à procura de novas oportunidades na área de operações de projetos. Vi o anúncio para o posto num painel de emprego local, e apressei-me a procurar mais informação online sobre o projeto BOHEMIA. Descobri que o objetivo era implementar uma campanha de administração massiva de fármacos com o fim de reduzir as infeções por malária em comunidades endémicas. Parecia-me muito interessante e candidatei-me.
Qual é o seu papel no ensaio BOHEMIA e quais são as suas tarefas diárias?
Sou a diretora de operações do projeto. Basicamente, o meu trabalho é assegurar que todas as atividades planeadas para o projeto são levadas a cabo tal como se estipula no protocolo do ensaio.
Cada dia é único, sem dúvida. Pode haver um dia em que estou a trabalhar no acolhimento do pessoal, no outro dia estou a planificar as atividades de formação. Há outros dias em que promovo as atividades de envolvimento comunitário.
Qual tem sido a parte mais gratificante do seu trabalho, e quais são alguns dos desafios com que se depara?
Este projeto tem atividades intercaladas, todas elas com o mesmo objetivo – reduzir a transmissão da malária e salvar vidas. O espaço de trabalho está em constante evolução, e estou a aprender imensas competências transferíveis. Julgo que nenhum outro projeto ou cargo me poderia ter exposto a uma curva de aprendizagem tão pronunciada num período de tempo tão curto.
Não faltam desafios na minha função, com um ritmo alucinante que requer resolver os problemas rapidamente, exige capacidade de adaptação e resistência para lidar com cinco blocos de trabalho num único projeto de saúde. Parece assustador ao princípio, mas quando se apanha o ritmo, todos os dias são como uma nova aventura.
Na sua opinião, o que é que falta para avançar no combate à malária no Quénia, e qual acha que pode ser o papel de BOHEMIA?
Num mundo cheio de doenças em evolução, com agentes e vetores causadores da doença em mutação, entre outros aspetos, necessitamos de estratégias inovadoras para lhes fazer frente. E isso requer financiamento, mentes apaixonadas suficientemente atrevidas para encontrarem soluções fora do convencional, assim como comunidades afetadas dispostas a participarem no processo de investigação. O projeto BOHEMIA representa a união desses três fatores, com vista a explorar uma nova ferramenta complementar para a prevenção da malária.